quinta-feira, 30 de abril de 2009

TRIBO KATUKINA

Essa semana fizemos uma turnê pelo Acre,e indo para Tarauaca passamos por uma aréa indigena e resolvemos dar uma paradinha,para conhecer um pouco mais sobre a cultura deles.

Definir quem são os Katukina, orientando-se exclusivamente pela denominação do grupo, não é uma tarefa fácil. Desde a primeira metade do século passado, os registros históricos produzidos por missionários, viajantes e agentes governamentais sobre as populações indígenas do rio Juruá fazem referência a grupos indígenas conhecidos pelo nome de Katukina. Entretanto, "Katukina" (ou Catuquina, Katokina, Katukena e Katukino) é um termo genérico que chegou a ser atribuído a cinco grupos lingüisticamente distintos e geograficamente próximos, conforme o antropólogo Paul Rivet (1920). Atualmente esse número se reduz a três: um da família lingüística Katukina, na região do rio Jutaí, no estado do Amazonas, e dois da família lingüística Pano, no estado do Acre. Nenhum dos dois grupos pano conhecidos pelo nome de "Katukina" o reconhece como auto-denominação. Os membros de um deles, localizado às margens do rio Envira, próximo à cidade de Feijó, preferem ser reconhecidos como Shanenawa, sua auto-denominação. Os do outro não reconhecem no nome "Katukina" qualquer significado na sua língua, mas o adotam, dizendo que a denominação, na verdade, foi "dada pelo governo".Este verbete trata apenas do último dos referidos grupos. O nome "Katukina" tornou-se aceito pelos membros de suas duas aldeias, do rio Campinas e do rio Gregório, que não possuem uma denominação étnica comum. As únicas auto-denominações existentes e amplamente aceitas referem-se aos seis clãs nos quais se dividem: Varinawa (povo do Sol), Kamanawa (povo da Onça), Satanawa (povo da Lontra), Waninawa (povo da Pupunha), Nainawa (povo do Céu) e Numanawa (povo da Juriti). É digno de nota que, com exceção de Nainawa, tais denominações são idênticas aos nomes de algumas das seções do povo Marúbo.

A língua katukina pertence à família lingüística pano. A nasalização é uma de suas fortes características. A maior parte das palavras é dissilábica e oxítona e novas palavras podem ser formadas a partir combinação de duas palavras ou da inclusão de um ou mais sufixos. Os pronomes pessoais não fazem distinção de gênero. Todos os Katukina falam a sua própria língua para relacionarem-se entre si. O português é usado exclusivamente para conversar com os brancos. Apesar do longo período de contato com estes, menos da metade da população Katukina é fluente em português.A língua falada pelos Katukina do rio Campinas e do rio Gregório apresenta diferenças significativas em relação à língua falada pelos Shanenawa.
São duas as Terras Indígenas (TI) nas quais vivem os Katukina. A TI do rio Gregório, a primeira a ser demarcada no Acre, em 1982, com 92.859 hectares, no município de Tarauacá, é também habitada pelos Yawanawá, que ocupam sua porção sul. A TI do rio Campinas, demarcada em 1984, com 32.624 hectares, na fronteira dos estados do Amazonas e do Acre, circunscreve-se nos limites dos municípios de Tarauacá (AC) e Ipixuna (AM). Apesar disso, a sede do município de Cruzeiro do Sul é o núcleo urbano que lhe fica mais próximo, a apenas 55 quilômetros da aldeia. A TI do rio Campinas, em toda sua extensão leste-oeste, é cortada pela BR-364 (Rio Branco- Cruzeiro do Sul).

Uma das mais importantes divisões sociais entre os Katukina, que perpassa e engloba todas as ações do cotidiano, é aquela entre os gêneros. Desde muito cedo as crianças são socializadas de acordo com os papéis sexuais que lhes cabem. Embora até a puberdade não seja esperado que as crianças contribuam na produção doméstica, elas já desempenham as tarefas mais fáceis de seu gênero. Após a puberdade já é esperado que as pessoas se dediquem mais às atividades domésticas e os pais exigem a ajuda de seus filhos. Rapazes e moças para poderem se casar devem saber desempenhar suas tarefas específicas e a ajuda que dão aos pais neste período é, ao mesmo tempo, uma forma de aprendizado. As duas principais atividades masculinas são a caça e o preparo do roçado. A primeira, sem dúvida, é a atividade mais apreciada por todos. A caça exige muito mais do que força e disposição. Os garotos, por volta de 12-14 anos, começam a acompanhar seus pais na mata, para aprenderem os segredos que um bom caçador deve saber: reconhecer os rastros dos animais, seus gritos e assobios, os horários de atividade e inatividade. A melhor época para a caça é o "inverno", período das chuvas, que começa em novembro e prossegue até abril. Nesta época é que amadurecem e caem a maior parte dos frutos que servem de alimento aos animais, fazendo com que sejam mais facilmente encontrados. As chuvas, umedecendo o chão da floresta, facilitam a identificação dos rastros dos animais e abafam o barulho dos movimentos do caçador.Apesar da grande valorização da caça, é a agricultura que oferece a maior parte dos itens que compõem a dieta e é também a atividade que absorve maior tempo de trabalho de homens e mulheres. A macaxeira e a banana são os principais vegetais da dieta. Numa escala secundária plantam batata-doce, cará, taioba, inhame, mamão, abacaxi e cana-de-açúcar. Recentemente os Katukina passaram também a reservar uma grande área do roçado para o plantio de arroz e de milho, para comercializar.Os homens são responsáveis pela abertura de roçados para suas esposas e entre os meses de maio e julho fazem a broca dos arbustos e a derrubada de grandes árvores. Terminada esta etapa, interrompem o trabalho no roçado até que a vegetação esteja toda seca, por volta do final de agosto e início de setembro, quando fazem a queimada e, posteriormente, o plantio da macaxeira. Já a batata-doce, a taioba, o inhame, o mamão, o abacaxi, a cana-de-açúcar e o algodão são plantados pelas mulheres. O mamão e a cana-de-açúcar são plantados nos roçados e também nas imediações das casas. O plantio do arroz e do milho é feito por homens e mulheres.Enquanto as atividades masculinas são executadas fora da casa, grande parte das atividades femininas concentram-se em seus limites. A única exceção é a colheita de macaxeira e banana no roçado. As outras atividades, preparar os alimentos, cuidar dos filhos e lavar roupas e utensílios domésticos, são restritas ao espaço da casa ou às suas imediações.Sempre que houver tempo disponível, uma mulher deverá ainda fazer caiçuma, que pode ser de macaxeira (atsa matxu) ou banana (mane mutsa). O preparo da caiçuma de banana é simples: basta cozinhar a banana, amassá-la (não é mascada) e adicionar um pouco de água. Já o preparo da caiçuma de macaxeira demanda maior tempo e esforço e a iniciativa de fazê-la é sempre de mulheres adultas. Para preparar a caiçuma, a primeira coisa a fazer é colher a macaxeira no roçado; após descascada e lavada, a macaxeira deve ser cortada em pequenos cubos que são colocados numa panela com água e cobertos com folhas de bananeira; podem também acrescentar algumas batatas-doces. Após o cozimento, as mulheres amassam bem a macaxeira com uma colher de madeira e deixam a massa esfriar.Posteriormente, mascam toda a macaxeira cozida até que adquira a consistência de uma pasta. A etapa seguinte consiste em coar essa pasta. Feito isso a caiçuma está pronta e para consumi-la é necessário apenas acrescentar um pouco de água. Em tempos passados, as mulheres dizem que faziam também caiçuma de pupunha e de milho.Atualmente o grau de fermentação da caiçuma de macaxeira é bastante baixo, uma vez que após o preparo é imediatamente consumida e a quantidade que costuma ser feita pelas mulheres é suficiente apenas para dois ou três dias. Outrora, dizem as mulheres katukina, era feita muita caiçuma azeda (katxa matxu), de alta fermentação, mas os homens se embriagavam e brigavam. Para conter as brigas, as mulheres decidiram suspender o preparo da caiçuma azeda e atualmente preparam apenas a caiçuma doce, de baixa fermentação, pois não causa embriaguez. O grau de fermentação da caiçuma determina não somente o teor alcóolico quanto o círculo de consumo. A caiçuma azeda, quando ainda era elaborada, tinha um círculo largo de consumo e estava associada a ocasiões rituais. Em contrapartida, a caiçuma doce está associada ao consumo restrito e doméstico. A decisão das mulheres de suspenderem o preparo da caiçuma azeda coincide com o fim da realização de certos rituais katukina.Na maior parte das vezes, homens e mulheres desempenham atividades distintas em espaços também distintos. Todavia, certas atividades não se enquadram nessa divisão e podem ser realizadas por homens e mulheres, num mesmo espaço. As principais são a pesca e a coleta de frutos silvestres. Os katukina plantam tingui (asha) e com suas folhas preparam uma pasta que colocam nos rios para sufocar os peixes e facilitar sua apanha. Nas grandes expedições de pesca não participam apenas as crianças menores de seis anos e as mulheres encarregadas de cuidar delas (mãe, irmã mais velha ou avó). O período para realização das pescarias coletivas vai de junho a novembro, do "verão" até o começo do "inverno", quando os rios e igarapés estão rasos e os peixes se refugiam nos remansos. Atualmente, na aldeia do rio Campinas, a caça começa a se tornar rara e os peixes são a principal fonte de proteína animal.A coleta de frutos silvestres, feita mais freqüentemente pelas mulheres, conta também com a participação dos homens. Isso porque os frutos mais encontrados (açaí, buriti, patauá, bacaba e cocão) dão em palmeiras muito altas e é preciso que pelo menos um homem acompanhe as mulheres para cortar a árvore ou nela subir.Em todas as atividades a divisão do trabalho mantém a reciprocidade entre os gêneros - da qual, aliás, é fundadora. Circunscritos em domínios, os diferentes produtos e tarefas de homens e mulheres são concebidos como complementares uns aos outros.No aconselhamento que antecede a consumação de um casamento, os pais orientam os noivos a cumprirem suas tarefas específicas: o rapaz deve caçar e preparar um roçado para sua mulher; por sua vez, ela deve sempre colher a macaxeira no roçado e preparar a comida e a caiçuma, além de cuidar dos filhos e lavar roupas. No aconselhamento essas obrigações são repetidas insistentemente e os noivos sabem que o não cumprimento de suas tarefas pode levar à separação.A expectativa de cooperação mútua entre homens e mulheres está expressa também nas partes do corpo em que cada um deve aplicar o veneno de um sapo (Phyllomedusa bicolor) que chamam de kampo: os homens, nos braços e peito; as mulheres, nas pernas. Ao kampo está associado uma variedade de propriedades benéficas para acabar com a preguiça e com a panema (falta de sorte na caça), além de curar doenças. A aplicação do kampo causa vômitos e diarréia e, assim, eliminam-se os males do corpo que impedem o pleno desenvolvimento das capacidades físicas. De acordo com os Katukina, os homens precisam de força nos braços e no peito para caçarem e abrirem os roçados e as mulheres, nas pernas para carregarem os paneiros com macaxeira, além dos filhos.

Os Katukina usam dois tipos de nome: em sua própria língua e em português. A atribuição de um nome do segundo tipo não segue nenhum padrão preestabelecido e qualquer pessoa pode sugerir um nome em português para uma criança recém-nascida, que será bem recebido principalmente se for inédito na aldeia. Ao primeiro nome acrescentam, respectivamente, os sobrenomes da mãe e do pai. Se na escolha dos nomes em português um dos principais critérios é o ineditismo, ocorre o contrário quando se trata dos nomes em katukina: os nomes se repetem, uma vez que provêm todos de um acervo comum que os katukina se esforçam em preservar. Em termos práticos, isso quer dizer que os pais escolhem para seus filhos os nomes de seus próprios parentes.Os pais são quem nomeia seus filhos, do sexo masculino e feminino, algumas vezes consultando antes pessoas mais velhas. A atribuição de um nome pessoal é algo simples e nenhuma cerimônia ou ritual é realizado: uma vez escolhido, basta os pais começarem a usá-lo. O nome recebido na infância é definitivo. A prática onomástica katukina é bastante variada e só não é permitido atribuir o próprio nome ao filho ou o nome de um filho morto. Dentre as alternativas existentes, a mais comum é os pais atribuírem a seus filhos o nome de seus próprios pais, isto é, se é uma menina os pais escolhem o nome da avó materna ou paterna, se é um menino escolhem o nome do avô paterno ou materno. A transmissão dos nomes através de gerações alternadas explicita o vínculo afetivo entre avós paternos e netos, que é bastante forte entre os katukina. Um outra alternativa, menos praticada, são os nomes dos tios maternos e paternos da criança. Deve-se observar, entretanto, que, nesse caso, os tios ou tias, sejam eles quais forem, já devem ter morrido e a escolha do nome é uma forma de colocá-lo novamente em circulação, permitindo assim que se preserve o acervo de nomes pessoais. Nesse caso, a reposição do nome assume um certo sentido de "homenagem", de demonstração de afeição ou estima pela pessoa que portava anteriormente o nome.Embora os nomes sejam todos indeterminadamente repostos, não há qualquer idéia de reencarnação ou de que uma pessoa deva substituir a outra. A identidade entre homônimos encerra-se com o nome.



Afinal me senti em casa...WANESSA CAMBRAINHA,A ORIGINAL,A ÍNDIA...



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